terça-feira, 14 de abril de 2009

Homens Bombas


Peguem todas as suas armas e chamem todos os seus amigos. Às vezes ela se chateia comigo, mas é porque eu prefiro os sorrisos coletivos a um único riso. É por isso que lhes digo para pegarem todas as armas e chamarem todos os seus amigos. Hoje é um dia de fazer o mundo todo sorrir.

Vamos fazer apenas algumas coisinhas.

Sentem-se aqui, vamos apagar as luzes. Lembram-se daquele jovem que nos disse que com as luzes apagadas nós nos sentimos melhor? Bem, é só um pouco de baixaria.

Se estamos todos juntos aqui, é porque alguém nos contagiou. É difícil chegar em casa após um dia duro e ver que um nobre partiu. Não é tão bom descobrir que somos pouco abençoados e que existe um fantoche pintado de cinza nos fazendo rir todas as tardes.

Por isso seremos homens bombas hoje. Temos algumas cabeças para explodir. Sabem, querida, eu vou começar pela minha; e sabem por quê? Seu sorriso me instiga a isso.

Não, não digam nada. Venham, sentem-se aqui e se explodam comigo. Temos tempo. Somos apenas um casalzinho esquisito.

sábado, 11 de abril de 2009

Cores de uma Canção

Chegará a nossa vez de construir nossa casa com as nossas mãos,
Em meio a um mar azul-anil profundo, belo e distante,
Em meio a uma floresta de árvores protegidas por anciãos,
De contrastes verdes protetores formando flores ofuscadas e cintilantes.

Não me causa comoção morar numa cidade assim tão grande,
Aqui, a felicidade das pessoas derrete com o fim do dia,
Nossos prazeres não se identificam dentro desse presente,
Acompanhe-me por essa natureza que é tanto sua quanto minha.

Imagine que o azul da noite expire por nossa vontade,
Que o amarelo do dia seja fruto da sua felicidade,
As cores giram em torno de nós pela beleza do contraste,
Aprecie esse seu novo mundo formado por todas as cores,
Sinta o sabor de ter uma lua manchada e coberta de flores.

Tenho um problema, consegue me identificar?
Consegue me ajudar com o ritmo do seu toque?
Adquira uma palavra para que eu possa cantar,
Compor para a minha mulher uma bela canção de rock,
Com as influências que marcam e apoderam o seu próprio pensar.

Cansei de criar mundos surdos e mudos para a minha mulher,
Crio para ela músicas que explicam a explicação do chegar,
Excluindo a negação de que o que nos motiva é a fé.

Planetas de vozes vociferando seu nome no vácuo do espaço,
Pétalas de cordas que a prendem, propondo além de palavras,
O descanso que se refere ao que eu sei que posso e faço,
Assim que a pretendo sentir, como frases desarmadas,
E se eu fosse escolher um lugar para morrer, escolheria seus braços.

Nós vamos contribuir com o amanhecer e com o entardecer,
Por sermos os mais belos telespectadores desse ímpeto,
Sentados naquele banco antigo e cômodo que tanto adoramos,
Que transcorreremos o que chamamos de linha do infinito.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Rei Caronte

Nascido em Sheol, não se sabe em que ano ou onde
Sabe-se apenas que deram a ele o nome de Caronte
Era costumeiro atravessar a barca pelo rio Aqueronte

Quando era questionado por ser tudo dessa maneira
Ele respondia: “Somente por isso, acredite
Aqui, neste meu rio, não se pesca sereia
E nenhum empregado de Afrodite trabalha"

Caronte era tão velho e há tantos anos com aquela missão
Sempre que chegava um novo passageiro, recebia sua moeda
E remava com suas antigas forças, fumando alcatrão
Seu rio era um grande poço de água, rodeado de pedras

Caronte, rei do segundo maior rio do mundo
Caronte, você é um grande filho do barro
Percorre navegando, destruindo sonhos oriundos
Faz da morte alheia remadas de um barco

Há boatos que mataram seu pai, mas a verdade está longe disso
Caronte jamais teve rivais, seu Pai é dono de tudo isso
Caronte, continue sua navegação pelo Aqueronte
Seu Pai o espera, trazendo mais um de seus filhos

Quando tentaram trair Caronte, ele guardou sua barca
E prometeu a todos cessar o seu trabalho
Deixando todos os enfermos ansiando novas almas
Assim, Caronte se tornou um Rei honrado

A guerra estoura ao amanhecer, mas Caronte continua
Ele é perpétuo nessa navegação eufórica
Ele nos disse certa vez que a morte é uma grande amiga sua
É por tanta admiração que ele faz dela a sua Senhora

Caronte disse: "deixe este lugar para o além
Deixe-o entrar na minha barca para chegar ao seu lugar
Este lugar se tornará algum dia importante para alguém
Será aqui o destino final da minha barca, este é o nosso lar"

Não há homens aqui perseguindo o velho Caronte
Ele é apenas um serviçal dentro de um grande rio
Quero que o Senhor nos mostre a sua fronte
Porque você é o Pai de Caronte, você é o Senhor
Ele navega há tantos anos trazendo seus escravos
E no nosso mundo falam da senhoria com tanto horror
Eu quero agora enxergar o rosto de quem diz ser o Diabo

Caronte é um velho que trabalha para o velho Hades
Não se sabe desde quando, mas Caronte é filho do pai
Esse segredo está guardado no seu coração trancado à chaves

Não chore, não chore, agora que você está perto de descobrir
Chegou a sua hora de navegar pelo rio Aqueronte
Triste infelicidade a sua de ter que logo agora partir
Entre na barca e pague a moeda do Rei Caronte
Ele te levará até o final do rio sem que você adormeça
Você está navegando sobre sonhos, onde não há sereias
É apenas o rio que te leva para o Inferno
Cuidado, não mantenha o seu corpo assim tão interno
Caronte é filho e salvador da verdade
Caronte apenas faz o seu dever de levá-lo para Hades.

domingo, 5 de abril de 2009

Identidade

Bem, eu sei de tudo. Não há mais nada agora que eu não posso captar. Se lembra daquela tarde ofegante? Certo...

Peço desculpas, mas não havia jeito de ficar quieto. Entenda que eu estava zonzo naquele dia. Acertava todos os alvos; mas os sons, não. É porque os sons me desequilibram.

Agora, quando é manhã, eu sinto sempre tudo da mesma forma. Por que eu fiquei? Jamais apenas um pouco alterado. Não há nada aqui que eu não conheça. Só essa sensação de que agora tudo ficará como deveria.

Não há nada perdido ainda; só sou um labrador farejando os rastros. Sinto falta; mas o que posso dizer? Palavras? Palavras sãos coisas que se dizem...

É engraçado, não há encruzilhadas me cercando. Me lembro ainda das promessas pactuadas naquele dia. Um dia me esconderei nas suas asas.

Acho que você tem nome de pássaro.

E tudo que tenho é um deus me atacando. Vamos lá, senhor. Uma palavra, um ato. Ou uma gota de sangue. Sempre, sempre; não sei por qual razão, me saboreio observando. O passo, o tom de voz, a leveza do tato, me entende? É claro, não precisa muito para instigar. Já a satisfação se dá pelo ato. Por que sou tão desvirtuado?

Acho que falo demais agora. Esqueço que o mistério é a minha rede.

Adoro palavras, sabe? Já percebeu que palavras tocam? Seja o que for, com as palavras certas, se consegue a vontade. E vontade é tudo que importa, o resto é imperfeito.

Aprenda a conversar, meu camarada. Autobiográfico demais, não acha? Você se sente um pouco desconfiada lendo isso agora? Foi por acaso que você está me lendo agora? Não serei cínico: escrevi para você sim. E é por lhe achar diferente, sabe?

Sou fascinado por diferenças...

A diferença descoberta leva a uma igualdade tão absurda, não acha? Se não entendeu, pense um pouco a respeito. Não quero ser arrogante.

Vamos combinar agora: um dia eu lhe perguntarei a origem do seu nome. Então você entenderá, certo?

Eu sou só uma pessoa que gosta de brincar demais. Não gosto de resolver enigmas, mas me maravilho em criar alguns. E esse não é complicado. A solução é mais óbvia.

Eu não escreveria para você à toa.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ambíguo

As coisas são como são
Porque são assim
Não poderiam ser de outro jeito
E caso fossem
De outro jeito seriam
Sendo desse mesmo jeito
Voltando a ser como são
Ou como seriam
Mas não eram.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Grades da Quinta Rua

O verde do lodo se choca com o cinza do chão
Batido de cimento, com as borras espalhadas
Os mesmos brinquedos de dez anos atrás
A mesma criança linda dona de um coração

A lagarta no pé de goiaba - cercado de prédios -
O resto do pomar que a vizinha jogou mal olhado
Isso fazia parte do meu quintal, meu remédio
Os mesmos brinquedos de dez anos atrás, jogados

A gangorra do parque sem ter alguém para sentar
Estava lá, ela no chão, esperando equilíbrio
Eu a enterrando no chão, uma direção alta
A outra baixa, comigo sozinho.

sábado, 28 de março de 2009

Bar do Jaques (Parte II)

O bar do Jaques fica no final de uma ladeira; uma rua morta de asfalto antigo, cravejada em paralelepípedos. Se o bar não existisse, ali seria o fim do bairro. Morto; local que teria a atração apenas dos mendigos, viciados perdidos, ladrões pequenos e prostitutas infectadas. A geografia do lugar era propícia. Jaques foi um homem de incrível visão. Comprou aquele terreno lúgubre e desabitado; comprou por uma ninharia, de tão desvalorizado que era. De um lugar como aquele que ele precisava ter para abrir o seu negócio próprio; sua freguesia seria as pessoas interessadas em um refúgio social. O local ideal para elas se desabrocharem, sem medo das fofocas hipócritas de uma sociedade sórdida. Assim, padres ninfomaníacos, policiais que gostavam de transar com homens, professoras apaixonadas por seus alunos e todo o tipo de gente que queria um pouco de diversão sem usar máscaras eram atraídos àquele bar. Jaques dizia que alguém deveria compreender as pessoas e seria justo cobrar um valor simbolicamente monetário por isso. Se o dinheiro não compra felicidade, Jaques era o cara que vendia o espaço para as pessoas serem felizes.

Como qualquer casa noturna, o dia mais movimentado da semana era sexta-feira. O último dia de trabalho para a maioria das pessoas; todos exaustos de manter as aparências. Jaques fazia algo especial para os seus clientes na sexta-feira; começava com um show de humor e depois música ao vivo. E nossa bandinha faria o show aquela noite, com sua primeira e única formação no palco, até aquele momento: Pablo, líder, vocalista, guitarrista e robô; Sérgio, baixista e o único verdadeiro músico e compositor do grupo; eu, gaitista e nada mais; e Marques, o nosso baterista autista viciado em crack.